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‘Gestão de Crise’: Paracatu/MG é treinada para enfrentar o ‘novo cangaço’

Curso enfrenta lacuna de proteção dos municípios no combate à invasão de crime organizado

As forças de segurança e os moradores da cidade de Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais, vão sofrer um ataque de uma quadrilha especializada em roubo de altas quantidades de ouro às 23h da próxima quinta-feira (25 de julho). Dezenas de homens vão “invadir” o município munidos de armas de alto calibre, como metralhadoras e fuzis. As autoridades devem se preparar para uma súbita queda de energia, como é de praxe em um crime do tipo ‘Novo Cangaço’. Entretanto, desta vez, a população não precisa sentir medo, já que a “invasão”, por hora, não passará de um simulado para preparar a cidade contra a modalidade criminosa. 

O “Curso de Plano de Gestão de Crises de Segurança nas Cidades” é fruto de uma parceria do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), tendo como objetivo enfrentar as ações do crime organizado contra grandes empresas, principalmente mineradoras.
 

A cidade de Paracatu foi a primeira a ser escolhida para passar pelo treinamento. Nela, foi identificada como possível alvo dos criminosos a empresa Kinross Gold Corporation, que opera na mina Morro do Ouro.

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“Dentro da mineração, as empresas têm seus próprios mecanismos de proteção. Mas esse crime é de extrema violência e coloca em risco toda a cidade e os moradores”, alerta Júlio Nery, diretor de sustentabilidade do Ibram. Os paracatuenses, as autoridades e as forças de segurança da cidade estão imersos em um treinamento desta segunda até a quinta-feira (22 a 25 de julho). Nesse período, será formulado um ‘Plano de Defesa’ que será testado no simulado final.

Conforme Nery, o projeto de treinamento das forças de segurança surgiu após uma série de ocorrências de crimes que envolvem quadrilhas especializadas no roubo de grandes companhias. Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, um grupo armado com fuzis assaltou uma empresa de defensivos agrícolas dando um prejuízo estimado de R$ 50 milhões. O ‘Novo Cangaço’ aconteceu em julho de 2023, mas 11 suspeitos foram presos em abril deste ano. 

Outro exemplo marcante, citado pelo diretor, é o roubo de 5 milhões de dólares em cargas no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, São Paulo, em 2018. “Esse projeto tem alguns anos, desde 2019, e acontece devido a diversas ocorrências de assaltos violentos em cidades produtoras de ouro ou com grandes empresas. Agora, o Ibram entra para participar após convênio com o governo. O curso vai propor um plano de defesa e ensinar as autoridades e a sociedade a se proteger. A polícia tem que saber o que fazer nesses casos”,  descreve o diretor Júlio Nery. 

 

Ouvido na última segunda-feira (22 de julho), o tenente-coronel Flávio Santiago, da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), destaca que a atuação da corporação contra o “novo cangaço” é considerada “exemplo” para o restante do país.

“Minas teve uma intercorrência do novo cangaço por uns cinco anos. Em um combate sistemático que tivemos, com prisões e até confrontos, Minas virou exemplo para o Brasil no combate a essa modalidade que assolava toda a sociedade brasileira. Hoje, nós temos treinamentos, a gente não pode deixar de treinar, mas, praticamente zeramos essa modalidade criminosa em Minas”, disse Santiago. 

Balas de festim e carros queimados

Para o simulado de quinta, serão usados tiros de festim (balas de borracha) e, até mesmo, veículos serão queimados para, entre outros elementos, dar mais veracidade ao “crime” que simulará a invasão do ‘Novo Cangaço’. 

“As quadrilhas colocam toda a cidade em risco e não é raro que tomem conta. A facção costuma ter de 20 a 40 bandidos. Eles entram na cidade com armas pesadas, metralhadoras de alto calibre, e agem sempre de forma planejada. Por isso, as forças de segurança, as autoridades e até os moradores precisam saber como agir para evitar perdas desnecessárias”, detalha Nery sobre a atuação destas quadrilhas. 
 

O curso e o simulado  resultam de acordo de cooperação técnica assinado entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ibram, em 5 de janeiro deste ano. Após a experiência em Paracatu, a expectativa é que o projeto avance para outras cidades mineiras e de fora do Estado. A agenda será decidida posteriormente. 

 
 

Fonte
O TEMPO

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