
Os efeitos da alta do dólar são enormes porque impactam os preços dos produtos importados e, portanto, a inflação, o que acaba neutralizando a subida das taxas de juros que o BC (Banco Central) está promovendo. As exportações também não têm sido favorecidas, pois quase chegando à metade do ano, o País ainda acumula um enorme déficit. Os EUA tem aumentado o aperto sobre a América Latina para compensar as derrotas nas demais regiões do mundo.
A desvalorização do real começou a acontecer a partir de 2011, coincidindo com o esgotamento dos mecanismos de contenção da crise capitalista, baseados principalmente em enormes volumes de crédito sob recursos públicos. Em 2011, o dólar chegou a cair para R$ 1,55 no mês de abril, fechando em R$ 1,87 no final do ano, disparando para R$ 2,04 no final do ano passado e agora se encontrando em torno aos R$ 2,15.
A priorização da produção e exportação especulativa de meia dúzia de matérias primas (minério de ferro, petróleo, soja, carne, café, açúcar e carne) acelerou o processo de desindustrialização e provocou a disparada das importações. O governo tenta manter a cotização do dólar em torno a R$ 2 para evitar o aumento dos custos com os produtos importados que pressionam intensamente a inflação. Ao mesmo tempo, a queda acentuada do superávit da balança comercial provoca a necessidade da desvalorização, para aumentar as receitas com as exportações, mas, devido ao motivo anterior, as políticas públicas não conseguem facilita-la.
Os crescentes empréstimos tomados pelo Brasil e pelas grandes empresas no exterior se encarecem, sendo obrigados a fazer investimentos em hedge (transações especulativas de seguro que, na prática, são feitas em cima de swaps cambiais sob os nefastos derivativos financeiros), o que dispara a especulação financeira.
Supostamente o BC (Banco Central) teria muita bala na agulha para enfrentar a crise cambial e a especulação financeira. Essa “bala” estaria representada pelas reservas soberanas, que superam os US$ 376 bilhões, e o compulsório dos bancos, que supera os R$ 400 bilhões. Parecem cifras enormes, mas apresentam graves calcanhares de Aquiles, a começar pela distância da economia real, do desenvolvimento produtivo. O dólar, que não passa de uma moeda podre, emitida sem lastro produtivo, pode tornar-se pó em várias situações, principalmente no caso da escalada da desestabilização e do ascenso revolucionário no Oriente Médio, que liquidaria os petrodólares, que estão na base dessas emissões e da hegemonia do imperialismo norte-americano na especulação financeira.
Numa situação de colapso financeiro e de hiperinflação, que está colocada para o próximo período, o compulsório bancário também viraria pó rapidamente, como o demonstrou a recente experiência do segundo governo FHC no final dos anos 1990.