O trabalho sobre o Ribeirão das Almas foi entregue à comunidade de Bonfinópolis, agora, sua implantação depende de recursos.
O Zoneamento Ambiental e Produtivo (ZAP) utiliza de uma metodologia que estuda o ambiente. A partir daí aponta os problemas e as necessidades de mitigação, que são as correções que devem ser feitas pelos usuários da água para melhorar a situação ambiental e produtiva de uma bacia hidrográfica. Quem explica o trabalho é Pierre dos Santos Vilela, engenheiro agrônomo, superintendente do Instituto Antônio Ernesto Salvo (Inaes), uma Associação civil, sem fins lucrativos. Criada há 10 anos e ligada à Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), essa Associação tem como objetivo desenvolver projetos e programas, a exemplo desse de utilização do ZAP. Estuda os problemas e a proposição de ações para o desenvolvimento dos sistemas produtivos de base agrícola.
Em 21 de março de 2018, o Instituto entregou à comunidade de Bonfinópolis de Minas o estudo desenvolvido no Ribeirão das Almas (pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Urucuia), principal fonte de água que abastece o município localizado no Noroeste de Minas. Desde a seca de 2014/2015, a população passou pelo acirramento de conflitos dos usuários desse curso d’água, porque na parte de cima do rio, onde há uma chapada, está localizada a agricultura irrigada, que é a maior usuária da água. Na foz do rio fica o município, e no período de seca, por vários momentos, esse curso d’água chegou a ser interrompido, em parte.
Apoio técnico
A busca por uma solução para o impasse partiu da comunidade que utiliza as águas do Ribeirão das Almas, principal fonte que abastece o município de Bonfinópolis de Minas, Noroeste de Minas. A bacia desse ribeirão é declarada uma área de conflito há muito tempo pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), tanto que ali é aplicada a outorga de Q7-10- 30% da vazão – para atender os usuários. O ribeirão não é caudaloso e a principal demanda por água está no início da bacia, isto é, na área de carregamento do rio, explica Pierre Vilela.
A comunidade começou a discutir o problema e resolveu procurar o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae- -MG) para ajudá-los, não só para diminuir os conflitos, mas também para buscar resoluções técnicas para a gestão dos recursos hídricos. Como o Sebrae não tem essa expertise, foi atrás e conheceu o ZAP, metodologia da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), referendada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). O Inaes, como responsável pelo desenvolvimento de estudos e projetos do Sebrae, encarregou-se de absorver a metodologia e aplicá-la no ribeirão. Tudo isso foi negociado no segundo semestre do ano de 2017. O financiamento da execução do ZAP na região ficou entre o Sebrae (80%), Irriganor (10%) e Prefeitura Municipal de Bonfinópolis (10%). Para esse investimento inicial foram aplicados R$ 180 mil, e como foi o primeiro trabalho feito na região, precisou de coletar informações e dados, além de muitas horas de trabalho, reuniões e visitas locais.
Estudo é apenas o início
Pierre Vilela explica: “Aplicamos a metodologia, fizemos uma série de descobertas e, na semana de 20 a 25/5/2018, conversamos com todos os atores sociais, irrigantes, ribeirinhos, comunidade urbana, Câmara Municipal mostrando os achados do estudo e apontando quais deverão ser as tecnologias e melhorias para começar a resolver de forma prática os problemas encontrados”.
A bacia pode ser dividida em duas: a parte de cima, que é a chapada, onde estão localizados 2.500 ha ocupados pela agricultura irrigada, e 17 ou 18 mil hectares pela agricultura de sequeiro. Isto é, a área irrigada é menor do que a de sequeiro, mas é importante em relação ao consumo de água, pois está no início da bacia. Depois da chapada, vem a parte baixa, onde ficam a pecuária leiteira e a de corte, médios e pequenos produtores, que não utilizam a irrigação. Trata-se de uma região com formação geológica que favoreceu a erosão, uma condição de solo muito ruim. Desde os primórdios de utilização desses solos, deveria ter atentado para as práticas conservacionistas, o que, infelizmente, não aconteceu em quase um século de ocupação. O que se tem hoje, na parte baixa, é um problema ambiental muito sério de degradação de solos.
Na parte de cima, onde está a irrigação, é praticada uma agricultura conservacionista, não há problema de degradação ambiental, com veredas preservadas. Por ser um latossolo profundo, não se vê problemas ambientais. A degradação começa, quando ocorre a mudança. Na parte de cima está a caixa d’água, onde se localizam as principais nascentes que abastecem o Ribeirão das Almas. Nessa montante, existe uma ação importante a ser feita, que é a reservação da água, por meio da construção de barragens, associadas às Boas Práticas Agrícolas, para evitar erosões e assoreamentos.
Estudo é apenas o início
“Mostramos a eles que se todas as outorgas que se encontram em análise pelo órgão ambiental forem aprovadas, a situação é de insustentabilidade hídrica”, afirma Pierre. Os principais cursos d’água da região, considerando-se a atual situação, não suportam a demanda que está sendo feita junto ao órgão ambiental.
Mesmo com a situação crítica já declarada e a maior oferta de água já disponível, a recomendação técnica para o problema seria a construção de barramentos para regularizar a vazão e armazenar água para o período intermediário de produção. Assim, evidenciou-se a necessidade de trabalhar a melhor oferta de água e de disciplinar sua utilização ao longo do ano. Na primeira safra, período chuvoso, a utilização estratégica da irrigação, em momentos críticos, é uma garantia para cumprir os cronogramas estabelecidos para cada cultura e uma segurança para contornar os perversos veranicos, que ocorrem aleatoriamente e comprometem as produções. Para as possibilidades da segunda e terceira safras, com uma utilização mais intensiva da irrigação, mesmo que em período parcial, a gestão em torno da utilização da água disponível será determinante.
A questão é: crescer e desenvolver a parte de cima da chapada é interessante para o município. Noventa e cinco por cento da economia municipal é proveniente da área agrícola. A produção é de grãos, e a estratégia é reservar a água, pois é preciso regularizar o fluxo hídrico para melhor atender a todos os usuários, bem como para melhorar a produção já existente e com o melhor ordenamento até ampliá-la. A comunidade tem interesse em aumentar a produção local, pois tem havido um firme mercado para seus produtos.
Arquivos para download:
ZAP Ribeirão das Almas
Relatório Final ZAP Ribeirão das Almas Bonfinópilis de Minas
Fonte:ITEM,Prefeitura de Bonfinópolis de Minas.