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Quase metade da água usada na agricultura é desperdiçada.

Irrigações mal-executadas e falta de controle da quantidade usada estão por trás do uso inconsequente da água doce no Brasil

O setor que mais consome é também o que mais desperdiça água doce no Brasil. A agropecuária usa 70% da água no país, porém quase metade desse montante é jogada fora. As estimativas são do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês). Entre os motivos do desperdício estão irrigações mal-executadas e falta de controle do agricultor na quantidade usada em lavouras e no processamento dos produtos. Os impactos recaem sobre o ecossistema, já que lençóis freáticos e rios sofrem com a falta de chuvas e correm o risco de secar ao longo dos anos.

O último levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (Snis), do Ministério das Cidades, mostrou que a média de consumo diário de água de cada brasileiro é de 150 litros, o que resulta em um consumo médio anual de 10,4 trilhões de litros no país. Desse total, pouco mais de 7 trilhões são destinados à agricultura, que acaba desperdiçando cerca de 3 trilhões de litros de água.

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O consultor nacional da FAO, José Roberto Borghetti, diz acreditar ser necessário encontrar um caminho para a agropecuária utilizar a água com eficácia. “O produtor rural precisa ter maior rendimento na produtividade usando menos água possível”, afirma. Segundo ele, caso não sejam tomadas medidas emergenciais no setor, o país pode viver o que ele denomina de estresse hídrico. “O que resultaria em falta de água e má distribuição em diferentes regiões do país”, explica.

De acordo com o coordenador de Estratégia para Água Doce da organização The Nature Conser­­vancy, Albano Araújo, a retirada excessiva e uso desordenado do líquido na agricultura culminarão em impactos nocivos ao meio am­­biente. “A irrigação só deve ser usada quando não chove. Mas em períodos de seca o rio fica com menos água. Dessa forma, o rio corre o risco de sofrer com pouco volume. Quando a irrigação é feita diretamente de um lençol freático, o aquífero ou os poços artesianos podem ser afetados com baixa vazão ao longo dos anos”, explica.

Conforme aponta Samuel Barreto, coordenador do programa Água Brasil da organização não-governamental WWF, é necessário adotar mecanismos para o uso eficiente e inteligente no campo. “Devem ser criadas ferramentas que possam indicar o quanto pode usar de água e o que precisa ser recuperado. Para isso, o Estado deve interferir e ser mais protagonista neste sentido”, diz.

Wilson Bonança, consultor para assuntos de recursos hídricos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), discorda da tese de que a agricultura é a maior consumidora de água. “Isso é um mito. Na região de São Paulo, o uso no setor não chega a 30% do total. Existe desperdício de água em tudo, até na hora de tomar banho. Mas existem, por exemplo, técnicas de irrigação adequadas para cada região e cada cultura”, ressalta.

O gerente para uso sustentável da Agência Nacional de Águas (ANA), Devanir dos Santos, acredita na possibilidade de redução do desperdício nas lavouras. “Às vezes trocar a forma de irrigação ou as peças do mecanismo já ajuda a minimizar gastos desnecessários”, diz. No entanto, revela que falta a devida orientação para que os produtores se conscientizem do uso racional da água. “Não existe assistência técnica eficaz no país para que os agricultores aprendam a melhorar o sistema de irrigação e entendam o quanto de água deve ser usada em diferentes culturas”, ressalta.

Projeto orienta produtores rurais a usar melhor a água

O Paraná tem aproximadamente 10,5 milhões de habitantes e cerca de 1,7 milhão vi­­ve no meio rural. O estado responde por aproximadamente 25% da produção nacional de grãos e 8% da produção pecuária. Os números demonstram o tamanho da importância do campo na economia paranaense.

Entretanto, entre os principais problemas rurais, está justamente o manejo adequado do solo e da água. “No campo, é possível gastar muita água ou equacionar o uso se preocupando com o meio am­­biente”, aponta o coordenador do Programa de Manejo do Solo e da Água da Secretaria de Estado da Agricultura e Abaste­cimento, Erick Schaitza.

O órgão desenvolve um programa que objetiva orientar o produtor a planejar o cultivo a fim de que se encontre uma sustentabilidade ambiental. “Para isso é necessário planejar o cultivo e olhar toda a paisagem. Saber, por exemplo, onde se devem manter as florestas e preservar as margens dos rios. Tudo isso irá contribuir para o bom andamento da agricultura e o uso equilibrado de água”, explica.

Microbacias

Schaitza afirma que o governo estadual dividiu o Paraná em microbacias. “Cada microbacia atinge entre 50 a 60 produtores.

Os técnicos elaboram o planejamento de como o agricultor deve atuar para preservar o meio ambiente como um todo”, diz. De acordo com ele, todos devem trabalhar considerando a conservação de solos, água e biodiversidade. “Independentemente do que é plantado ou criado na propriedade”, salienta.

 

 

 

Fonte:Gazeta do Povo

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